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HUMANIZAÇÃO EM UTI

O aspecto humano do cuidado de enfermagem, com certeza, é um dos mais difíceis de ser implementado. A rotina diária e complexa que envolve o ambiente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) faz com que os membros da equipe de enfermagem, na maioria das vezes, esqueçam de tocar, conversar e ouvir o ser humano que está à sua frente. 

 

Apesar do grande esforço que os enfermeiros possam estar realizando no sentido de humanizar o cuidado em UTI, esta é uma tarefa difícil, pois demanda atitudes às vezes individuais contra todo um sistema tecnológico dominante. A própria dinâmica de uma UTI não possibilita momentos de reflexão para que seu pessoal possa se orientar melhor. 

 

As UTIs surgiram a partir da necessidade de aperfeiçoamento e concentração de recursos materiais e humanos para o atendimento a pacientes graves, em estado crítico, mas tidos ainda como recuperáveis, e da necessidade de observação constante, assistência médica e de enfermagem contínua, centralizando os pacientes em um núcleo especializado.

 

Embora seja o local ideal para o atendimento a pacientes agudos graves recuperáveis, a UTI parece oferecer um dos ambientes mais agressivos, tensos e traumatizantes do hospital. Os fatores agressivos não atingem apenas os pacientes, mas também a equipe multiprofissional, principalmente a enfermagem que convive diariamente com cenas de pronto-atendimento, pacientes graves, isolamento, morte, entre outros.

 

Por força dos efeitos negativos do ambiente sobre o paciente, a família e a equipe multiprofissional, uma série de estudos volta-se para a necessidade de humanização dos serviços que utilizam alta tecnologia. O paciente internado na UTI necessita de cuidados de excelência, dirigidos não apenas para os problemas fisiopatológicos, mas também para as questões psicossociais, ambientais e familiares que se tornam intimamente interligadas à doença física. A essência da enfermagem em cuidados intensivos não está nos ambientes ou nos equipamentos especiais, mas no processo de tomada de decisões, baseado na sólida compreensão das condições fisiológicas e psicológicas do paciente.

 

É importante abordar a necessidade de humanização do cuidado de enfermagem na UTI, com a finalidade de provocar uma reflexão da equipe e, em especial, dos enfermeiros. Neste estudo, entende-se que humanizar é uma medida que visa, sobretudo, tornar efetiva a assistência ao indivíduo criticamente doente, considerando-o como um ser biopsicossocioespiritual. Além de envolver o cuidado ao paciente, a humanização estende-se a todos aqueles que estão envolvidos no processo saúde-doença neste contexto, que são, além do paciente, a família, a equipe multiprofissional e o ambiente.

 

A humanização deve fazer parte da filosofia de enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos são importantes, porém não mais significativos do que a essência humana. Esta, sim, irá conduzir o pensamento e as ações da equipe de enfermagem, principalmente do enfermeiro, tornando-o capaz de criticar e construir uma realidade mais humana, menos agressiva e hostil para as pessoas que diariamente vivenciam a UTI. Foi feito um estudo analisando-se diferentes categorias no cuidado humanizado.

 

Cuidado humanizado - amar ao próximo como a si mesmo 

Refere-se aos significados do cuidado humanizado na UTI. Nesse conceito, os profissionais focalizam o cuidado humanizado na perspectiva do doente, ou seja, colocando-se em seu lugar: Humanizar - um cuidado além de técnico, com uma dose de sentimento; Ambiente Humanizado - poder ver o azul do céu, o verde das árvores, a luz do sol e Humanizar - dar atenção ao paciente e seus familiares.

Humanizar - um cuidado além de técnico, com uma dose de sentimento - reunimos os depoimentos em que os informantes relacionam o cuidado humanizado a sentimentos de respeito e dignidade pelo paciente e familiares.

 

...é o indivíduo holístico, isso que é humanizar, você nunca tratar o indivíduo só como um número, uma doença, uma patologia, o leito tal... (...) ...não esquecer que ele tem emoção, tem sentimento, tem pudores.....

O cuidar envolve verdadeiramente uma ação interativa. Essa ação e comportamento estão calcados em valores e no conhecimento do ser que cuida "para" e "com" o ser que é cuidado. O cuidado ativa um comportamento de compaixão, de solidariedade, de ajuda, no sentido de promover o bem, no caso das profissões de saúde, visando ao bem-estar do paciente, à sua integridade moral e à sua dignidade como pessoa.

 

Ao nos projetarmos no lugar do outro, tomamos consciência de nós mesmos, ou seja, sentimos e somos capazes de avaliar e escolher terapeuticamente como gostaríamos de ser tratados naquele momento.

Ambiente Humanizado - poder ver o azul do céu, o verde das árvores, a luz do sol - os informantes relacionam humanizar a tornar o ambiente agradável e mais próximo da realidade: ...tornar o ambiente mais próximo da realidade do paciente, dos costumes em relação ao sono... (...) ....propiciar um ambiente mais agradável.

O ambiente tem influência direta no bem-estar do paciente, família e equipe multiprofissional. As estratégias que facilitam o contato, a interação e a dinâmica no contexto da UTI podem ser consideradas premissa básica para o cuidado humanizado.

 

O ambiente físico pode ser responsável pelo desenvolvimento de distúrbios psicológicos, pela desorientação no tempo e no espaço, privação de sono devido aos ruídos constantes. Todos os aspectos que puderem ser melhorados nesse sentido devem ser valorizados.

Apesar de ter relógio, janelas, a estrutura física compromete a assistência, os leitos são muito próximos e isso dificulta o trabalho, a questão da privacidade. Foi possível observar isso na prática: o espaço entre os leitos é pequeno e, apesar dos biombos, sua utilização fica prejudicada. Aos poucos, o ambiente físico tem sido adequado, mas ainda são intensas as questões como barulho e a falta de privacidade.

Humanizar - dar atenção ao paciente e seus familiares cuidado humanizado ao diálogo, à atitude de conversar, informar o paciente, localizá-lo no tempo e no espaço, identificá-lo pelo nome, enfim, personalizar o atendimento. Afirmam que o paciente deve ser considerado como uma pessoa que está em um momento difícil, mas que é um ser humano com necessidades, sentimentos, alguém que precisa não apenas de cuidados físicos, mas também psicossocioespirituais

 

Humanizar também com o significado de manter a família informada e preparar a família para entrar na UTI. A informação adequada, com palavras simples e condizentes com o nível sociocultural dos familiares, é um importante requisito para a humanização do cuidado. A participação do enfermeiro junto aos familiares, além de possibilitar a visita aos pacientes internados na UTI, envolve o fornecimento de informações precisas, favorecendo o contato com a realidade.

Diariamente, é feita a leitura de um "Boletim Médico" que contém informações genéricas com o imperioso chavão ? grave, estável, regular ? que não traduz particularidades de um estado ou de uma evolução. Apesar de ressaltarem a importância de orientar os familiares, poucas vezes, os enfermeiros participaram dessa atividade. De modo geral, os próprios informantes afirmaram: ...a informação que nós damos é sobre a rotina, o horário de visitas, o que pode e o que não pode, assim, mais superficial...

Cuidado humanizado - não está presente como deveria estar 

Existe uma realidade que, em muitos aspectos, fere o conceito de humanizar como amar ao próximo como a si mesmo e distancia o contexto da UTI desse ideal. Como pode ser observado nos depoimentos a seguir: ....é muito falado em humanização, mas é pouco vivido...

Eu fico com vergonha da enfermagem, me entristece muito de ver que o número de pessoas que não respeitam o doente é enorme....

 

A gente está mais direcionado à parte técnica, a parte espiritual a gente deixa de lado, e aí que pesa o lado de humanização, a gente deixa de ser mais humano....

A observação do contexto real da terapia intensiva faz-nos constatar a dicotomia existente entre teoria e prática. Apesar de conceituarem cuidado humanizado como respeito, amor, carinho, mantendo o diálogo, a privacidade, dando atenção à família, os informantes mencionam atitudes, comportamentos, condutas que caracterizam a UTI como um ambiente mecânico e desumano com paciente, família e equipe de enfermagem.

 

O contexto do trabalho na UTI apresenta uma série de nuances, concordâncias e contradições que se referem ao sistema cultural da prática do cuidar em enfermagem. Assim, as subcategorias, a valorização da técnica em detrimento do cuidado - a realidade do cuidar em UTI; o relacionamento com pacientes e familiares: uma coisa assim mais superficial - revelam a realidade do cuidar em terapia intensiva.

 

Na subcategoria a valorização da técnica em detrimento do cuidado - a realidade do cuidar em UTI, reunimos os depoimentos em que os informantes apresentam uma realidade na qual prevalecem ações mecânicas, rotineiras, centradas na execução de tarefas. O depoimento a seguir exemplifica essa situação: ...a gente é tecnicista, só quer executar, limpar e acabou... (...) A enfermagem é muito.... "receita de bolo", chegou lá e é isso, é isso e é isso..., a gente não pára muito para refletir, para pensar, não dá valor a esse tipo de coisa.

 

O paciente, nestas circunstâncias, se encontra exposto à perda de identidade e à falta de privacidade. Apesar de os profissionais terem consciência da necessidade do cuidado humano, o cuidado técnico impera no ambiente cultural da UTI. A estruturação de UTIs cada vez mais sofisticadas e burocratizadas é inevitavelmente despersonalizante. Pacientes estão à mercê de estranhos cujas funções e papéis desconhecem, de máquinas, de aparelhos de testes e de rotinas totalmente desconectadas de seus hábitos. O cliente torna-se somente um paciente a mais, outra patologia, outro tratamento, outro prontuário, ele é solicitado a descartar sua identidade e tornar-se um paciente.

 

Não deixa de ser interessante e necessário refletirmos sobre o fato de que, apesar das discussões e posições teóricas sobre humanizar, ainda hoje é impressionante a flagrante violação dos direitos do homem e de sua dignidade. Ninguém questiona a importância da existência da tecnologia, porque ela em si mesma não é benéfica nem maléfica, tudo depende do uso que se faz dela. A UTI precisa e deve utilizar recursos tecnológicos cada vez mais avançados, porém os profissionais não deveriam esquecer que jamais a máquina substituirá a essência humana.

 

Existe, nesse cenário cultural, uma enorme contradição entre o que é falado com o que é vivido. No contexto real, transparecem as raízes de um cuidado despersonalizado, centrado na execução de tarefas e agressivo com o paciente, a família e a equipe multiprofissional. Constatamos que prevalecem ações curativas, voltadas para valorização das tecnologias. O objeto da enfermagem está centrado mais na tarefa a ser executada do que no paciente.

Na subcategoria relacionamento da equipe com paciente e familiares - uma coisa assim mais superficial, foi observado que os momentos de contato entre paciente e equipe estavam relacionados às atividades como o banho, a aspiração endotraqueal, os curativos, a mudança de decúbito, enfim, às rotinas e aos procedimentos. A partir dos depoimentos obtidos e das observações realizadas, constatamos que, apesar das declarações de que ...gosto muito de conversar com a família.., ....gosto de estar orientando os familiares..., o envolvimento com o paciente e a família está longe do ideal para humanizar. Essa percepção é também caracterizada pelos depoimentos transcritos a seguir: ...a gente não interage muito com a família... (...) ...nosso relacionamento com a família é muito curto, muito pequeno.

 

...só converso com a família no momento em que o paciente chega, a gente dá uma orientação prévia, em relação ao horário de visita. Uma coisa assim, mais superficial, não é uma interação assim, mais profunda...

 

Durante as observações, foi possível constatar que o contato com a família é bastante formal e burocrático e, principalmente, despersonalizado. O diálogo com os familiares é restrito e, raras vezes, o enfermeiro acompanhou de fato o momento de sofrimento e angústia da família. Justamente no horário de visitas, todos os funcionários aproveitavam para tomar o lanche. Terminado esse período, eram reiniciadas as atividades e, mais uma vez, o cuidado, centrado na execução de tarefas, denotava claramente o ambiente da UTI.

 

É preciso ter em mente que, para a família cumprir o seu papel e dar suporte à situação vivenciada pelo paciente, ela também precisa de suporte para suas necessidades físicas e emocionais.

 

Estresse e sofrimento - é preciso cuidar de quem cuida 

Ressaltam-se aspectos referentes ao estresse pela sobrecarga de trabalho e o intenso número de atividades no dia-a-dia da UTI. Profissionais opinaram sobre o sofrimento gerado quando se envolvem com pacientes e familiares, justificando, assim, que o relacionamento distante, muitas vezes, é um mecanismo de defesa. Mencionaram, ainda, a importância de estender a atenção à equipe de enfermagem no cuidado humanizado, ou melhor, cuidar de quem cuida, como condição necessária para melhorar a qualidade do cuidado na UTI.

 

Nesse aspecto, as subcategorias que emergiram foram: Cuidar em Terapia Intensiva - ambiente estressante e sobrecarga de trabalho; Envolvimento com pacientes e familiares - a gente se apega e sofre; Humanizar - cuidar de quem cuida.

 

Na subcategoria cuidar em Terapia Intensiva - ambiente estressante e sobrecarga de trabalho, reunimos os depoimentos em que os informantes salientaram o estresse e o cansaço causados pela sobrecarga de trabalho que envolve o ambiente cultural da UTI. O depoimento a seguir exemplifica essa situação: O ambiente é estressante, pela sobrecarga de trabalho.(...) ....nunca deixa de ter alguma coisa para fazer. (...) ...se você for responsável demais, você se esgota, e não consegue vencer o trabalho que tem a fazer.... 

...é muito cansativo e sobrecarregado o trabalho... (...) ...exige muito da gente.

Observamos que a maioria dos informantes e da equipe de enfermagem, como um todo, tem mais de um emprego. O ambiente da UTI é bastante instável, há dias tranqüilos, mas também, dias agitados, com pacientes graves, que exigem atenção e cuidado rigoroso de toda a equipe. No período matutino, acontece a maioria das atividades como RX, curativos, exames. O número de pessoas que transitam pela UTI é intenso, e o barulho também. O ruído do monitor, do respirador, as conversas da equipe médica e de enfermagem dificultavam a própria realização das observações participantes.

 

A equipe de enfermagem está, provavelmente, exposta a um nível maior de estresse que qualquer outra do hospital, porque deve lidar não somente com a assistência a seus pacientes e familiares, mas também com suas próprias emoções e conflitos.

 

A UTI é uma unidade geradora de estresse, sendo as principais manifestações: fadiga física e emocional, tensão e ansiedade. Dentre as fontes que produzem alto poder estressante, a equipe considera: o ambiente de crise, risco de vida, situação vida/morte, sobrecarga de trabalho, má utilização de habilidades médicas e a falta de reconhecimento pelos profissionais.

 

Na subcategoria envolvimento com pacientes e familiares - a gente se apega e sofre, reunimos os depoimentos em que os informantes mencionaram, o que também pode ser observado, que alguns pacientes, principalmente, os idosos e as crianças, sensibilizam mais a equipe. Nas ocasiões em que isso ocorreu, constatamos um cuidado mais carinhoso. Em situações assim, esporadicamente, observamos que o cuidado humano de fato aconteceu. Nessas ocasiões, o cuidado se torna mais centrado no paciente, na família, mas os informantes referiram que esse apego, esse envolvimento, leva a uma aproximação e, conseqüentemente, ao sofrimento. Como pode ser observado neste depoimento: ...a gente sofre, principalmente, com os pacientes a que a gente se apega mais... (...) ...a gente envolve com a família... (...)....às vezes você fica o dia inteiro, com um paciente grave, você fica ali o tempo inteiro e de repente ele vai a óbito, então aquilo para você é sempre uma perda.

O envolvimento com o paciente e a família é um pré-requisito essencial para humanizar. Porém, esse aspecto deveria ser trabalhado e discutido com a equipe, para não gerar a angústia, o sentimento de impotência, levando, com isso, à negação e ao distanciamento como mecanismo de defesa. Essa perspectiva aparece representada pelas falas: ...a gente tem como defesa o próprio ser humano, de manter uma distância, uma defesa da gente emocional, manter uma distância do paciente...

O processo de interação efetiva entre membros da equipe e familiares não é fácil, uma vez que aspectos psicológicos negativos estarão sempre envolvidos, em maior ou menor escala. A análise qualitativa do efeito benéfico dessa interação é altamente estimulante e permite antever a sua eficiência na assistência global ao paciente criticamente enfermo. Trata-se, pois, de um desafio, para a equipe que atua em UTI, promover interação efetiva com o paciente e com a família.

 

Na subcategoria Humanizar - cuidar de quem cuida, ao refletirem sobre o conceito de humanizar, reunimos os depoimentos em que os informantes mencionaram a necessidade de cuidar da equipe de enfermagem: ...não adianta você fazer uma área física linda e maravilhosa, onde o paciente tem um Box individualizado, onde ele tem tudo, onde ele tem televisão, ele tem som, ele tem um banheiro privativo, mas que a equipe também não está humanizada...

 

Só é possível humanizar a UTI partindo de nossa própria humanização. Os profissionais de enfermagem não podem humanizar o atendimento do paciente crítico, antes de aprender como ser inteiro/íntegro consigo mesmo. O encontro com o paciente nunca é neutro, sempre carregamos conosco os preconceitos, valores, atitudes, enfim, nosso sistema de significados culturais. Por isso, cuidar de quem cuida é essencial para se poder cuidar terapeuticamente de outros. 

  

O CUIDADO HUMANIZADO: muito falado e pouco vivido.Considerando as categorias e subcategorias que emergiram, o tema cultural deste estudo está condensado na afirmação O

 

CUIDADO HUMANIZADO: muito falado e pouco vivido. Esse tema desvela a realidade do processo de cuidar, em terapia intensiva, de uma equipe de enfermagem que tem um conceito sobre humanizar sintetizado na afirmativa: amar ao próximo como a si mesmo, mas, na prática, o cuidar não reflete essa tão profunda expressão. 

Ao refletirem sobre o cuidado humanizado, os informantes apresentaram duas perspectivas: a realidade da prática na UTI, "o vivido" e o ideal de humanizar, "o falado". Dessa forma, do ponto de vista do profissional de enfermagem, a realidade na prática da UTI é interpretada considerando o conceito de "doença processo" que se refere às anormalidades de estrutura ou funcionamento de órgãos ou sistemas. Reflete o vivido nas UTI(s).

Quando o profissional assume a posição do doente, o conceito de humanizar reflete a percepção da "doença enfermidade" que constitui uma interpretação e um julgamento das impressões sensíveis produzidas pelo corpo. Portanto, não é meramente um estado de sofrimento, mas também uma realidade sociocultural. Essa é, então, a perspectiva do ideal de humanizar. Colocando-se no lugar do outro, o profissional passa a cuidar, considerando um significado de humanizar que envolve respeito, dignidade, abrangendo a expressão amar ao próximo como a si mesmo.

A organização do trabalho baseada na execução da tarefa e o distanciamento entre equipe, pacientes e familiares, justificados como mecanismo de defesa, em função do estresse pela sobrecarga de trabalho, são referidos pelos informantes como o real, o vivido na UTI. Os informantes referem que o cuidar é tecnicista e mecânico, desprovido de sentimento. Executar a técnica, limpar, manter a ordem na unidade são procedimentos que estão fortemente enraizados nesse cenário cultural, esquecendo-se, muitas vezes, dos sentimentos do paciente, família e até mesmo de seus próprios sentimentos, enquanto profissionais que, diariamente, lidam com o estresse.

Ao refletir sobre o significado cultural de cuidado humanizado, tendo a cultura como um sistema de significados pelo qual os indivíduos percebem e compreendem o mundo que habitam, aprendendo a viver dentro dele, concluímos que a enfermagem tem a responsabilidade e o compromisso ético e profissional de resgatar o sentido do seu agir, e isso só será possível a partir da conscientização de que o ser humano é capaz de buscar a si mesmo, a sua essência e, por conseqüência, buscar o outro. 

É possível que esta realidade também esteja presente na maioria das UTI(s) brasileiras. Assim, essas características não devem ser apenas relacionadas a problemas burocráticos, muito menos estruturais e técnicos, mas sim a uma questão que envolve atitudes, comportamentos, valores e ética moral e profissional.

Se cada um de nós entender e aceitar quem somos e o que estamos fazendo, seremos capazes de lutar e agir para que essa mudança aconteça, nem que, para isso, sejam necessárias décadas. O significado de humanizar: amar ao próximo como a si mesmo, que nada mais é do que uma forma de dar sentido a nossa vida, deixará de ser simplesmente um discurso para ser verdadeiramente vivenciado.

Este trabalho não pretende esgotar o tema acerca da compreensão do significado cultural de cuidado humanizado para equipe de enfermagem em UTI. No entanto, pretende contribuir para a realização de novos estudos e para melhorar a qualidade do cuidado de enfermagem, nesse cenário cultural.

 

 

 

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